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Memórias Paroquiais de Cabeceiras de Basto

Vila Nune (ano de 1758)

Relação e informação do reverendo vigário de Santo André de Vila Nune do termo e visita de Basto deste Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas. A respeito do conteúdo nos interrogatórios no papel adjunto, eu o vigário Domingos Leite de Andrade o que sei e posso informar acerca do que se pretende saber desta terra, desde o primeiro artigo até o sexto, conteúdos no papel adjunto é o seguinte, digo o seguinte:

Que esta terra é da Província de Entre Douro e Minho, dois rios os mais famosos e celebrados dela, pertence ao Arcebispado de Braga Primaz das Espanhas, é da comarca de Guimarães vila, termo de Cabeceiras de Basto, freguesia de Santo André de Vila Nune. É terra de EI Rei Nosso Senhor que Deus guarde.

Tem esta freguesia cinquenta e cinco vizinhos e pessoas de ambos os sexos, nela atualmente existentes duzentas e trinta e nove, incluídos os impúberes e ainda os que carecem do uso de razão. Está situada em um limitado vale e na descida de alguns montes. Dela se descobrem a povoação e freguesia de São Pedro de Atei, da comarca de Trás-os-Montes, distante menos de um quarto de légua; e dois lugares chamados Agunchos e Formoselos, da freguesia de Cerva, da mesma Província, distantes mais de uma légua; e o lugar e vizinhança da Covilhã, adjunta proximamente da freguesia de São Tiago da Faia, deste mesmo termo e comarca; e o lugar de Vale Velho, da freguesia de São Martinho de Arco, também próximo que consta de muitos poucos vizinhos.

Terá esta freguesia, em circuito e termo seu, quase meia légua, compreende catorze lugares a saber: o lugar de Simães, que tem dois vizinhos; Granja, que consta de dois vizinhos; o do Vale, que tem cinco vizinhos; Vila Nune, que contem quatro vizinhos; o lugar de Oleiros, que consta de dois vizinhos; Frontilheiro, que tem quatro vizinhos; item, o lugar da Silva, que consta de oito vizinhos; item, o lugar de Fojães que consta de um só morador; item o lugar da Ribeira da Covilhã, que consta de um só morador; item o lugar da Corujeira, que tem quatro vizinhos; item o lugar do Outeiro, que contém dois vizinhos; item, o lugar da Rossada, que tem cinco vizinhos; item, o lugar de Merouços que tem um vizinho; item, o lugar da Serra, que tem um só vizinho e umas casas de outro que estão sem habitador.

Advertindo que muitos vizinhos dos referidos lugares são mulheres solteiras e pobres miseráveis e alguns oriundos de outras freguesias. E é esta uma das mais pobres deste concelho de Cabeceiras de Basto. A paróquia desta freguesia está dentro do lugar da Granja e muito próxima ao lugar do Vale.

7° artigo: O apóstolo Santo André é o seu orago. Tem três altares: o maior do Santíssimo Sacramento e do Glorioso Apóstolo e também contém Santo António, São José com o Menino Jesus, São Gonçalo. Não tem naves esta igreja nem irmandades.

Artigo 8°: O pároco desta paróquia é vigário remível ad nutum ordinari por crime ou erro do ofício cuja apresentação pertence ao reverendo reitor do colégio de São Jerónimo de Coimbra. Terá de renda o pároco respetivo à igreja entre certos e incertos trinta e um mil réis pouco mais ou menos.

Desde o nono artigo até o decimo quarto inclusive não tenho que informar a respeito do que neles se contém.

Artigo 15° Ao décimo quinto artigo digo que os frutos da terra que os moradores desta freguesia recolhem em maior abundância é vinho e quase todos compram pão, o azeite só poderá chegar para todos os moradores dela, de castanha pouca poderá sobejar.

Artigo 16° Ao décimo sexto artigo digo que esta freguesia está sujeita ao juiz ordinário e câmara deste concelho de Cabeceiras de Basto cujo juiz e câmara são feitos de três em três anos pelo corregedor da comarca da vila de Guimarães, a votos, e está também sujeita aos almotacés do dito concelho.

17. Esta freguesia não é couto, nem cabeça de concelho.

Ao décimo oitavo e décimo nono artigo não tenho que dizer.

Artigo 20°: Ao vigésimo artigo digo que os moradores desta freguesia se servem de dois correios, um, posto no lugar da Raposeira freguesia e couto de São Miguel de Refojos de Basto, e outro, no lugar de Mondim, da Província de Trás-os-Montes, comarca de Vila Real, distantes cada um uma légua, pouco mais ou menos, cujos correios chegam da cidade do Porto na Segunda-feira de cada semana e parte na Quinta-feira.

21. Ao vigésimo primeiro digo que me consta que esta freguesia dista da cidade capital do Arcebispado, oito léguas, e, da de Lisboa, capital do Reino, sessenta léguas.

Desde o vigésimo segundo até o último artigo não tenho que informar.

Nesta freguesia não há serra digna de memória nem que contenha o que dizem os artigos.

No que respeita ao rio desta terra o que posso informar é o seguinte: que pelos limites desta freguesia mana um rio chamado o Tâmega o qual me consta tem sua origem em uma lagoa de Monte Rei do Reino de Galiza e divide esta Província da de Trás-os-Montes. É caudaloso e de curso arrebatado em toda a sua distância e corre todo o ano e me consta que acima da vila de Chaves, entra nele um regato que tem sua origem na serra do Larouco, concelho de Montalegre. E é o primeiro que aumenta as suas águas. E no concelho e freguesia de Ribeira de Pena entra também nele outro rio chamado o Bessa muito abundante de trutas, e entram mais dois rios mais limitados, um, na freguesia de São João de Cavez, e outro, na de São Martinho do Arco de Baúlhe, ambas deste mesmo concelho, e outros mais rios ou regatos desde aqui a até aonde acaba de que me não lembro. Corre de Norte a Sul. Os peixes que produz e cria em maior abundancia são: barbiscos e bogas, chamados assim vulgarmente, e escalos, e algumas trutas. No limite desta freguesia não tem pescarias. Sempre teve e tem o mesmo nome. Vai morrer ao rio chamado o Alto Douro abaixo da vila de Amarante, quase cinco léguas, desde o seu nascimento até onde acaba poderá ter e girar a distância de vinte léguas pouco mais ou menos. Algumas levadas e açudes se intentaram fazer nele nestas vizinhanças, porém só delas permanecem alguns vestígios sem embargo que no tempo de verão defronte desta freguesia nos limites da de São Pedro de Atei moem pão umas rodas de moinhos. Tem quatro pontes de cantaria: uma na cidade de Chaves; outra em São João de Cavez, daqui distante pouco mais de légua; outra, em Mondim, distante da de Cavez duas léguas pouco mais ou menos; outra, na vila de Amarante, distante desta terra cinco léguas. Não me consta que dele se tirem levadas para cultura de campos e não sei que mais dele possa informar.

Em cumprimento e observância da ordem que recebi do Muito Reverendo Senhor Francisco Fernandes Coelho, Desembargador Provisor deste Arcebispado, por Sua Excelência Reverendíssima não tenho mais que informar do conteúdo nos interrogatórios do papel adjunto.

Tudo o referido vai na verdade segundo o que sei e me consta e em fé e testemunho nela me assino adjunto com os reverendos párocos de St" Maria de Canedo e de São Martinho do Arco de Baúlhe.
Hoje, em Santo André de Vila Nune, e de maio vinte e três de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.

O vigário Domingos Leite de Andrade. O pároco António Alvares Correia da Silva. O vigário Henrique de Sousa Lobo, pároco da freguesia de S. Martinho.

Referências documentais:
IAN/TT, Memórias Paroquiais, Vol. 40, memória 246, pp. 1481 a 1484. Obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento a favor dos fregueses, 1735, 157, 91.

Para quem pretenda consultar o texto com a grafia original aconselha-se a consulta de José Viriato Capela – As freguesias do distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 1758: a construção do imaginário minhoto seiscentista. Braga: Universidade do Minho, 2003. P. 228-229.
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